segunda-feira, agosto 04, 2008

Se é que deuses existem.

Tenho até um mac bonitinho para escrever, casa vazia, filme sobre o processo criativo da escrita, um abajour anos 20, bloco, papel, caneta, lápis e borracha. Impressora funcionando. Saudades. Parece que não precisa de mais nada, é só sentar e bater as frases que vivo formulando na cabeça, juntar o monte de palavras ou frases soltas e tentar achar uma coesão, colocar ação no fluxo de pensamentos.
Escrever não pára (com acento que se nega a sair de cena) de fazer sentido, mas parece que é só pra mim e mais meia dúzia. Tinha a impressão de que fluía melhor quando eu era sozinha. Como vi ou ouvi no tal do filme, achei alguém para dar colo para os meus excessos. Não era bem assim no filme, mas assim foi entendido. Com colo e tudo eu me sinto só, mesmo sabendo, tendo quase a certeza de que não estou. Quando penso que de um dia para o outro posso voltar a estar só me vem com a fragilidade mais força ainda para ser independente, continuar a ser como eu era sozinha, só que agora com alguém. Parece que não dá, que é querer coisas demais, ser e ser também, ao mesmo tempo. É desejar ser super. Como eu disse ontem, meio bêbada, na verdade o que eu queria era ser famosa. Não para desfrutar do showbizz, mas literalmente para viver os louros da fama, poder fazer o que eu quiser que todos vão acreditar no meu projeto de filme, livro, peça de teatro, música, sei lá. Se bem que eu acho que se eu fosse famosa eu talvez não tivese estímulo para fazer porra nenhuma.
Pensei em ter um cartão depois de fazer um site: nele meu nome estaria grafado com toda a vaidade que me permite e abaixo, no lugar do crédito “prefiro não me definir”. Talvez ficasse muito grande, seria melhor colocar “multimídia”. Ou nada, fica menos arrogante, apenas “acessem o site, viramos todos um bando de www mesmo”.
Quando estou meio bêbada é sempre um momento de falar que eu gosto de escrever, é quando me permito. Nem sei mais se sei. Se curto ou não. Parei de ter tempo, não dei prioridade, tenho lembranças de um gosto bom e um nó no peito - angústia por não ter ido até o fim. Se tivesse dinheiro envolvido talvez eu conseguiria, mas assim, por compromisso com a escrita e comigo mesma, só se tivesse tempo e dinheiro no bolso. Não tendo, serve de desculpa.
Quero ser artista porque artista dá vazão ao pensamento. Não é isso que artista faz? Sente o que todo mundo sente, mas faz alguma coisa com isso. Gostaria de poder parar e fazer coisas com os sentimentos; saio atropelando eles por aí, deixando-os de lado, virando a página, procurando um novo encontro para já deixar o que mal começou pra trás. Diz Spinoza que é bom e apesar de eu concordar muito com ele, fico em dúvida. Tá certo que o melhor jeito de curar uma paixão é arrumando outra, mas esse negócio de deixar de lado o que incomoda pode ser pior. O problema vai ganhando dimensões ao invés de ser resolvido.
Sofrer para mim não é problema, se é que o verbo se encaixa na lista de atributos para ser um escritor. Hoje mesmo cheguei em casa contente de ser só eu, eu só e com saudades, mais ninguém além de mim e das minhas coisas. Minhas e dele. Fui pensando que feliz daquele jeito não podia, não saía texto nenhum, coisa e tal. Enrolei um pouco para sentar, lavei a louça, fiz comida, escovei os dentes, botei roupa de ficar em casa, fiz uns telefonemas e pronto – já estava sofrendo. Como eu disse pro cara que mora comigo e que eu ainda não estou a fim de citar o nome para não pessoalizar demais (a vida acadêmica inteira ouvindo que não se pode escrever em primeira pessoa dá em fobias desse tipo.), acho que a única coisa boa dos últimos tempos na minha vida é ele. Exagero. É que tudo em volta tá tão ruim que dá desespero. Nem tudo. O que dói é saber que eu me importo menos com o que eu deveria me importar mais. Tem certos assuntos que me agoniam, mas deixo eles de lado agora porque não quero entrar em detalhes, quero ser breve para conseguir reler e ver se tudo isso faz sentido.
Fui ao cinema querendo pagar meia, mas me boicotam, Em plena segunda-feira, achei que pagaria oito reais, mas eram dezoito. Paguei e foda-se. Tava muito a fim de ver o filme e não me arrependi. Não era bom, mas falava comigo e, numa segunda-feira de stress desnecessário (estresses no trabalho são desnecessários), precisava disso. Se me perguntarem se gostei, direi que gostei mais ou menos, não é um grande filme, mas é um grande filme para mim. Tenho conseguido distinguir melhor as artes assim, grandes obras e grandes obras para mim, não sei bem explicar a diferença. Não sei de porra nenhuma. Não tenho me importado com dinheiro, nem com a falta, nem com a sobra, tenho vivido somente e só de não me perturbar com isso agradeço a deus, se ele existisse...
As nossas palavras são somas do que ouvimos, me parece, me usando como exemplo pela falta de outros. Tem vezes que gosto tanto de frases que reproduzo-as interinhas. `As vezes só expressões. A gente deve ser isso, um somatório de experiências, entreouvidos e rabos de olho. É por isso que eu sou assim adaptável, mas cada vez mais cheia de não queros.
Tem uns probleminhas aí, to cheia deles, mas não me dá vontade nem de escrever só para mim, como maneira de refletir. Quero deixá-los e uma maneira que encontrei é não tocá-los, eles vão então indo assim de fininho, `a francesa como eu agora, depois de reler tudo.