domingo, agosto 29, 2004

Conexão Paris-Lapa

A paixão pela música brasileira é tão grande que o violinista francês Nicolas Krassik, que já estudou música erudita, turca e jazz, aprendeu o português e decidiu fazer escola no Brasil. Há três anos, ele mora no Rio de Janeiro, onde acaba de lançar o disco Na Lapa, com 14 faixas somente de músicas brasileiras.

Do samba ao choro, passando pelo forró, o CD tem participações ilustres de músicos mais que consagrados. Beth Carvalho, Carlos Malta, Yamandú Costa, Hamilton de Holanda, a dupla Zé da Velha e Silvério Pontes, além de João Bosco, o grande ídolo do violinista, são alguns dos nomes que figuram no álbum com repertório dançante.
“É uma honra poder contar com a participação de João Bosco. Foi a música dele que determinou a minha vida para o Brasil!” – explica Krassik, acrescentando que a música de Bosco, Preta-Porter de Tafetá, por ser uma mistura franco-brasileira mexeu muito com ele. “Em Paris, não saía do CD-player do meu carro.” A música é a quarta faixa do disco de estréia de Nicolas no Brasil.

Foi mesmo em Paris, onde o músico que aventura-se, e muito bem, na música popular brasileira, teve o primeiro contato com choro, samba, baião. Meses depois, Krassik estava embarcando para o Brasil. Bahia, Vitória e Fortaleza foram o destino dele, que escolheu a época do carnaval para visitar o país, há cinco anos. A agitação e a música agradaram, mas Nicolas voltou para a França com um gostinho de quero mais. “É que no carnaval, parece que tudo pára no país e o que eu queria era conhecer o dia-a-dia, vivenciar mais a cultura e não só festa...!” – explica.

Buscando uma imersão na cultura brasileira, em 2001, Krassik decide vir passar um ano no Rio de Janeiro, mas gostou tanto que está morando na cidade até hoje. “A diversidade da cultura brasileira me encanta. As influências européia e africana com a cultura nacional contribuíram para sonoridades muito peculiares!”, explica o violinista.

O título do CD, Na Lapa, não foi à toa.

“A minha sorte foi ter conhecido a Lapa apenas três semanas depois da minha chegada.”, conta. Foi lá que ele fez contato com o creme de la créme da música no Rio. No bar Semente, viu o virtuose Yamandú Costa esmerilhar o violão no palco e não teve dúvidas. “Enchi-me de coragem e fui com meu violino juntar-me a ele!” Ganhou a simpatia dos muitos músicos que estavam no bar, comemorando o aniversário do clarinetista Paulo Sérgio Santos. Hoje, apenas três anos depois, ele já participou de importantes gravações ao lado inclusive de Marisa Monte e da velha Guarda da Portela.

Com 35 anos, o simpático Nicolas Krassik domina um português quase sem sotaque e, toda semana, alegra as madrugadas dos amantes da boa música. Às terças-feiras, ele toca, juntamente com um conjunto de fino trato, que inclui Nilze Carvalho (voz, bandolim e cavaquinho), Nando Duarte (violão 7 cordas), Fábio Luna (percussão e flauta), no Rio Scenarium, casa de shows na Rua do Lavradio, na Lapa.

“Nicolas é hoje um carioca, decidiu ser um carioca”. A definição do violonista Luís Felipe de Lima, produtor do disco de Nicolas, resume o espírito desse “neo-chorão”, alcunha dada pelo jornalista e crítico musical Roberto Moura, que adora improvisar e ama o Brasil. “Compondo?”, pergunto. “Não, vim para cá para aprender e é o que estou fazendo, sentindo e incorporando cada vez mais, a música brasileira!”

sexta-feira, agosto 27, 2004

tudo acabou naquela mesa de bar.

Sessenta e quatro demissões do dia para a noite. Sentia-se como um membro do proletário das histórias do pós-guerra de Émile Zola, vagando pelo frio com fome, batendo de fábrica em fábrica, procurando ser explorado... Depois de cinco anos recusando ofertas de emprego, acreditando na dignidade e na função social daquele veículo ao qual tanto se dedicou, acabou em mesa de bar. Bebeu para afogar as lágrimas, estava feliz com a solidariedade dos amigos, alguns demitidos e outros, mais sortudos (ou não!), ainda presos à mesma rotina que outrora lhe pertencera.