quinta-feira, março 31, 2005

ócio enebriante

Sempre foi muito ambicioso. Contava os centavos, fazia e refazia seu orçamento todos os dias. Dedicou-se a vida toda à carreira, almejava alcançar um alto posto na empresa de construção onde trabalhava, acreditava estar ali sua felicidade. Até que um dia levou uma rasteira do destino: apaixonou-se por uma loira de pernas magras e altas, branquela e daquelas que têm o segundo dedo do pé maior do que o dedão. Chefes da relação. O caso é que ela era suíça. E dentro de exatos trinta dias estaria de volta à terra dela. Viveram quatro semanas de amor intenso, 24 horas juntos. Na despedida, cometeu uma loucura, a única de toda a sua vida: embarcou com ela, abandonando trabalho e todo o futuro que pensava para ele.
Chegando lá, novos planos pipocavam em sua cabeça. Mas só conseguia dormir, dormir e dormir. Estér foi cansando daquilo. Tornara-se um homem desinteressante e sabia disso. Mas não conseguia ser diferente. Todas as manhãs, acordava de bom humor esperando que aquele seria o grande dia. Saía de casa cheio de esperanças, mas voltava apenas com o pão da padaria. Não tinha forças e não achava a origem da lentidão que acometia-lhe. Foi descobrindo que não era de dinheiro que precisava, mas sim de um ofício. Duro admitir, mas nascera para o funcionalismo público brasileiro. O ócio estava desequilibrando-o.

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