sexta-feira, agosto 17, 2007

Como uma mulher traida

Esticou o braco para ver os dedos tremerem involuntariamente.
Procurava acalmar a respiracao ofegante e nao roer as unhas.
Sentava numa cadeira vermelha num corredor que terminava numa janela para o infinito.
Céu de um lado e fundo preto de outro. Era míope e o fim do corredor tao comprido era escuro, para ela preto mesmo, o fim.
Na barriga, contorcoes. Imaginava-se vomitando um balde inteiro ao lado da cadeira, de pé, encostada na parede feito um bêbado que tenta se equilibrar apoiando no poste.
O pé num sapato amarelo nao parava de balancar em movimentos muito rápidos que faziam seu corpo todo tremer.
Olhava a porta em frente e imaginava o que poderia se passar por trás daqueles murmúrios vindos da porta fechada atrás de si.
Tentava pensar nos seus objetivos de vida, onde gostaria de estar daqui a dez anos para ver se finalmente chegava a um resumo mental de tantos objetivos misturados e conseguia colocar para fora com clareza aquilo tudo. Mas só podia imaginar o quao bom seria se passasse e tivesse durante dois anos tranqüilidade no viver. Sabia da sua dificuldade de lidar com a palavra falada. Gostava mais do papel. De falar de si, somente informalmente, entremeando com brincadeiras.

Saiu a candidata antes de si. Foi chamada.

Entrou na sala, sete acadêmicos. Uma cadeira no centro, vazia. Sentiu suas bochechas ficando vermelhas. Sentou-se e juntou suas maos geladas como as de um defunto em frente ao peito. Respondeu que sim, havia dormido bem e sorriu tentando demonstrar calma.

Na saída, tontura, de repente o preto do final do corredor invadiu sua cabeca, teve vontade de entrar numa privada e ficar ali estirada vomitando tudo que pudesse de dentro de si. Colocou os óculos escuros, continuou caminhando e pensando que pena, teria sido tao bom. Nao era a sua missao.

Passou o resto da tarde dormindo e quando acordar vai ter dor de cabeca.

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