Barthes disse que Lacan disse:
"eu-te-amo não é uma frase: não transmite um sentido, mas se prende a uma situação limite: "aquela em que o sujeito está suspenso numa ligação especular com o outro." É uma holofrase
no fragmentos de um discurso amoroso.
sábado, dezembro 05, 2009
sábado, agosto 01, 2009
Cada um no seu quarto agora
Flores, secas ou frescas e amarelas
Das miúdas ou das bem grandes que só ficam bem se sozinhas na garrafa que faz de vaso
Na mesa, cobertor
Na poltrona, xícara
No armário, Camille
Na vitrola, cuecas
Tudo de um jeito junto, no nó que a gente desatou e não consegue dar
Das miúdas ou das bem grandes que só ficam bem se sozinhas na garrafa que faz de vaso
Na mesa, cobertor
Na poltrona, xícara
No armário, Camille
Na vitrola, cuecas
Tudo de um jeito junto, no nó que a gente desatou e não consegue dar
quarta-feira, julho 15, 2009
Foi quando eu não me incomodava ainda em arrumar o cabelo depois de sair da piscina que a gente se conheceu. Aquela amizade forçada pelos pais, vai brincar com ele, filha, ele tem quase a sua idade. Na verdade você já tinha quase uma cabeça a mais do que eu e naquela época eu me sentia acuada com meninos mais velhos. Além do mais, não gostava que minhas bóias tivessem desenhos, preferia uma toda lisa como a sua.
Tínhamos um amigo em comum, ou amiga, eu não sei mais, era filho ou filha do pessoal da fazenda, mas desse ou dessa eu não me lembro mesmo. Nem do exato lugar onde o sítio ficava. Nítida é a lembrança de um passeio a cavalo com você. As datas estão um pouco embaralhadas, não sei mais se foi nessa mesma época ou uns anos depois. Havia um canal, feito o do Leblon, mas sem poluição. Muitas árvores em volta e chão de terra com pedrinhas. Alugávamos os cavalos, que, coitados, andavam com tapa-olhos – coisa que eu nunca entendi pra que servia mesmo depois de terem me explicado. Os bichos faziam sempre o mesmo trajeto ao redor do canal e à mesma velocidade. Não sei mais se se pagava por hora ou por volta, o fato é que toda vez que a baia se aproximava eles faziam menção de entrar; precisavam ser puxados por um adulto no caso da criança querer mais uma volta e os pais consentirem. Eram todos muito automático e aparentemente pacíficos, domesticados. Entretanto nesse dia eu tive pânico e tive também vergonha do meu pânico na sua frente. Então enfrentei. Subi no cavalo, na carona de alguém, talvez do seu pai, acho que eu era muito pequena ou muito medrosa para andar sozinha. O coração quente por dentro, mas você estava lá na frente, andando quase a galope e eu não queria passar por menininha fresca, então fui respirando fundo, mesmo sem ninguém ter me ensinado esta técnica a ser praticada quando estamos com medo. Deve ser instintivo. Fui respirando fundo, fundo e quando acabou a primeira volta, pedi para descer. Hoje em dia eu continuaria, mesmo com trauma de cavalo.
quinta-feira, julho 09, 2009
Eu tinha um ano e meio, mas estranhamente me lembro deste dia. Essa cena é parte daquelas histórias que te contam tanto que você acaba achando que lembra, pode ser isso também.
Era de manhã cedinho no balneário. As crianças acordam bem mais cedo do que os adultos nesses lugares e nesta hora não havia ainda movimento de lanchas, devia ser um sábado.
Meu pai me contou que na manhã do dia seguinte, o mar estava mais calmo e limpo e ele me ensinou a respirar pelo snorkel ajoelhada à beira d’água, morninha em dia de sol. Depois, ainda de joelhos, ficamos os dois de snorkel e máscara. Avançamos um pouco mais na água e eu conseguia ver o fundo da areia, conchas e peixinhos.
Meu pai colocou então um par de pés de patos nele e em mim, devia ser minúsculo e colorido! Me levou para um passeio em águas mais profundas e ele disse que eu curti um visual calmo, tranqüilo.
Ele foi me puxando devagarinho, me ensinando a usar os pés de pato. Sutilmente foi largando a minha mão e eu fiquei ao lado dele. Devia estar olhando aquela água toda em volta, pensando naquele cara tão legal ao meu lado me dizendo coisas. Ele viu que eu estava segura, mergulhou e se virou de barriga para cima, abaixo de mim, ficamos nos olhando enquanto eu flutuava e nadava com o rosto afundado na água.
Foi assim, simples. Rapidinho eu estava nadando! Com a bicicleta foi muito mais difícil...
terça-feira, maio 26, 2009
Uma certa hora do dia.
Adoro essa hora do dia, o começo da noite, quando já está escuro, mas o breu não é absoluto. É horário de cansaço, de forçar o olhar para a leitura, de pensar no jantar para os que jantam ou de tomar um café com uma besteira para acompanhar.
É hora de ir pro balé depois da escola ou pro futebol de salão. De se largar no sofá e ligar a tv. Uma pausa nas ideias, cabeça fervilhando e a gente sem saber por que nem para que tanta coisa. Talvez seja hora também de ler o artigo separado do jornal de domingo. Ou de caminhar pelo bairro e ver como estão as pessoas, que roupas têm vestido para ir trabalhar?
Daqui a pouco essa hora passa e volta a vontade de casar.
É hora de ir pro balé depois da escola ou pro futebol de salão. De se largar no sofá e ligar a tv. Uma pausa nas ideias, cabeça fervilhando e a gente sem saber por que nem para que tanta coisa. Talvez seja hora também de ler o artigo separado do jornal de domingo. Ou de caminhar pelo bairro e ver como estão as pessoas, que roupas têm vestido para ir trabalhar?
Daqui a pouco essa hora passa e volta a vontade de casar.
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
Pólos amigos
Atendo o telefone e ele mudo. Alô, alô, mudo. Tenho o que fazer, mas o trim trim me perturba. E sempre mudo.Vou da cooperativa de egressos da penitenciária produtores de sabão a partir de óleo diesel a uma mostra de documentários sobre arte e não saio do lugar. Meus dentes rangem. Preciso de uma mesa nova, mas prefiro amor. Preencher formulários, traduzir textos, mas prefiro fotos. Vista pro cristo, prefiro praia. Estou assim, com um monte de coisas e nada. Entre o trágico e a comédia. Rica e pobre, desconsertada.
quarta-feira, dezembro 17, 2008
Casos sérios
Andava de um lado para o outro do corredor, mordendo os lábios, respirando fundo para se acalmar, se abanando com a propaganda de supermercado. Sentava e levantava, passava as mãos nos cabelos, e jogava a franja para trás da orelha. Maria Lúcia era do tipo certinha, nunca tinha dado um passo em falso na vida, movimentos todos muito calculados. Escola-faculdade-estágio-emprego fixo-fórum. Aos trinta e dois anos, promotora de justiça com boa fama. Agora lhe aprontava essa, a vida, puxaram-lhe o tapete e ela não sabia como sair do chão. O amor, essa coisa, sabe como é, a gente fica submissa mesmo, logo ela, que horror. Tinham acabado de chegar da Europa, os dois. Foi o avião aterrissar para ele sumir por quatro dias. Tudo tão lindo nos cafés de Marrais, nos lençóis brancos do hotel, dentre as tulipas de Den Haag, Amsterdã à beira mar, mais chique.
O caso era difícil, o daquela semana, ela tinha que estudar, montar uma estratégia, mas não ligava, não tinha medo, a cabeça não parava de pensar nela e nele e no que seria. Maria Lúcia foi procurar uma analista, Dra. Cláudia, indicação do juiz do tribunal, parece fera.
Leila, casada há três anos, namorou sete (anos, o mesmo cara). Um filhinho lindo, sobrinho querido, neto preferido. Tailleur todo dia, salto de bico fino, criança numa mão, chave do carro na outra. No fim do dia não tinha mais jantar a dois, cafuné na cama. Do dia para noite ele resolveu sair de casa, sei lá, viver todas as mulheres do mundo que ele não notava existirem nos últimos dez anos. O cara estava no auge e Leila ainda apaixonada. Ela sabia que ele gostava dela, sentia, mulher acha que sente essas coisas. Então ela deixou ele ir para ver qual era até porque não lhe restava outra opção. Foi e foi e foi mais um pouco até que surgiu a outra.
O cara entrou em conflitos. Sérios. Conflitos sérios. Não sabia mais o que queria, antes ele achava que era galinhar um pouco e voltar para casa, mas agora não sabia mais se tinha casa, que casa que era, aquela confusão, a maioria da gente sabe bem. O cara pirou tanto que em festa de família, quando era território neutro, tipo aniversário da prima, ele levou ela, a outra. Para dizer para mãe e para a avó – que já tinham dito que na casa delas, só a Leila – que ele tinha a vida dele e fazia dela o que bem entendia – da vida, só para especificar melhor. Ela mostrou-se muito simpática com todos e era uma mulher bem vestida, segura de si, bem resolvida. Dava até para entender a confusão do cara, imagina? Entre a cruz e a espada, diria minha falecida avó (que dentre a coleção de bordões gostava de repetir ‘antes mal acompanhada do que só’).
Sérgio estava assim, refém do coração, cansado de arquitetar planos para ver uma e outra. Passava o fim de semana com Maria Lúcia, os dias de semana com Leila. Uma fingia que não sabia da outra, porque amavam muito. Sérgio deixa levar, não consegue assumir uma atitude, tomar partido por um lado. Resolve viajar, vai para a Europa e leva Maria Lúcia. Lua-de-mel incrível. Volta e vai encontrar com Leila. Leila está namorando. Ele se tranca em casa por três dias, não consegue fazer nada. Liga para mãe e diz que ela “chutou o balde”. A mãe ri do outro lado e ele fica irritado, nervoso. “Não é bom ser corno, sabia?”
Sérgio marca um jantar num restaurante novo, à luz de velas, gostou de lá porque da primeira vez que entrou estava tocando Calvin Harris e Leila que havia apresentado-o. Mandou um buquê de flores com endereço e hora do jantar. Ela foi correndo, pode imaginar, mulher apaixonada, querendo curar as dores do amor com outro, mas louca para continuar a vida vidinha, ele, ela, o filhinho, casa-trabalho-casa, jantarzinho, cafuné, cama. Tem mulher que gosta. Pronto. Ele convenceu, ela desmanchou tudo com o outro cara – médico, bem sucedido, apaixonado. Deixou ele para lá para o recomeço.
Tudo pronto, casa arrumada, lençóis trocados esperando a volta dele no dia combinado. Nada. Anoiteceu e nada. Leila foi procurar uma analista, Dra. Cláudia, indicada pelas amigas, parece fera.
O caso era difícil, o daquela semana, ela tinha que estudar, montar uma estratégia, mas não ligava, não tinha medo, a cabeça não parava de pensar nela e nele e no que seria. Maria Lúcia foi procurar uma analista, Dra. Cláudia, indicação do juiz do tribunal, parece fera.
Leila, casada há três anos, namorou sete (anos, o mesmo cara). Um filhinho lindo, sobrinho querido, neto preferido. Tailleur todo dia, salto de bico fino, criança numa mão, chave do carro na outra. No fim do dia não tinha mais jantar a dois, cafuné na cama. Do dia para noite ele resolveu sair de casa, sei lá, viver todas as mulheres do mundo que ele não notava existirem nos últimos dez anos. O cara estava no auge e Leila ainda apaixonada. Ela sabia que ele gostava dela, sentia, mulher acha que sente essas coisas. Então ela deixou ele ir para ver qual era até porque não lhe restava outra opção. Foi e foi e foi mais um pouco até que surgiu a outra.
O cara entrou em conflitos. Sérios. Conflitos sérios. Não sabia mais o que queria, antes ele achava que era galinhar um pouco e voltar para casa, mas agora não sabia mais se tinha casa, que casa que era, aquela confusão, a maioria da gente sabe bem. O cara pirou tanto que em festa de família, quando era território neutro, tipo aniversário da prima, ele levou ela, a outra. Para dizer para mãe e para a avó – que já tinham dito que na casa delas, só a Leila – que ele tinha a vida dele e fazia dela o que bem entendia – da vida, só para especificar melhor. Ela mostrou-se muito simpática com todos e era uma mulher bem vestida, segura de si, bem resolvida. Dava até para entender a confusão do cara, imagina? Entre a cruz e a espada, diria minha falecida avó (que dentre a coleção de bordões gostava de repetir ‘antes mal acompanhada do que só’).
Sérgio estava assim, refém do coração, cansado de arquitetar planos para ver uma e outra. Passava o fim de semana com Maria Lúcia, os dias de semana com Leila. Uma fingia que não sabia da outra, porque amavam muito. Sérgio deixa levar, não consegue assumir uma atitude, tomar partido por um lado. Resolve viajar, vai para a Europa e leva Maria Lúcia. Lua-de-mel incrível. Volta e vai encontrar com Leila. Leila está namorando. Ele se tranca em casa por três dias, não consegue fazer nada. Liga para mãe e diz que ela “chutou o balde”. A mãe ri do outro lado e ele fica irritado, nervoso. “Não é bom ser corno, sabia?”
Sérgio marca um jantar num restaurante novo, à luz de velas, gostou de lá porque da primeira vez que entrou estava tocando Calvin Harris e Leila que havia apresentado-o. Mandou um buquê de flores com endereço e hora do jantar. Ela foi correndo, pode imaginar, mulher apaixonada, querendo curar as dores do amor com outro, mas louca para continuar a vida vidinha, ele, ela, o filhinho, casa-trabalho-casa, jantarzinho, cafuné, cama. Tem mulher que gosta. Pronto. Ele convenceu, ela desmanchou tudo com o outro cara – médico, bem sucedido, apaixonado. Deixou ele para lá para o recomeço.
Tudo pronto, casa arrumada, lençóis trocados esperando a volta dele no dia combinado. Nada. Anoiteceu e nada. Leila foi procurar uma analista, Dra. Cláudia, indicada pelas amigas, parece fera.
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