quinta-feira, maio 24, 2007

O homem quase nu

Fazia um calor de 30 graus que normalmente consideraria médio, mas para quem passara um longo período de graus negativos, era quente à beca. O sol entrando pela janela ainda sem cortina do apartamento novo despertou-me dez minutos antes do despertador. Querendo aproveitar ao máximo o tempo disponível para o sono - cada vez mais escasso - estava enrolando para levantar quando a campainha tocou. Em princípio pensei que fosse minha room-mate que nao dormira em casa. Levantei quase puta por ter de enfim estar de pé e deixar aqueles preciosos a essa altura oito minutos de sono.

Arrastei-me até a porta com minha camisa do Mickey cinza que meu pai usava quando eu era pequena e que mais tarde roubei do armário dele. Por algum motivo a camiseta continuava entre minhas roupas e eu a usava sempre pra dormir. Sem sutia e trajando ainda uma calca larga de flanela azul, cabelos arrepiados e remelas nos olhos, abri a porta pronta para xingar a pobre da minha companheira de apartamento.

Era o vizinho de cima. Oito e vinte da manha. Hallo! Susto.

Sören em seu short de pijamas e chinelos que poderiam ser havaianas me olha remelenta, se desculpa dizendo que saiu para comprar pao e quando voltou a porta tinha batido, "meu deus, isso nunca aconteceu comigo, desculpe ter te acordado, mas eu preciso ligar para um chaveiro, algo assim. Já procurei o zelador do prédio para saber se ele tem uma chave reserva, mas ele sumiu e eu tô aqui meio sem saber o que fazer."

"Imagina, Sören, entra aí, toma um café. Listas amarelas nao tenho nao, mas você pode usar a internet". A porta do quarto se abre, um sutia jogado no chao recepciona a visita. Par de jeans ao avesso em cima da cadeira da escrivaninha para onde ele se encaminhou. No cinzeiro da cabeceira, a ponta do beck da noite anterior. "Liga nao Sören, fique à vontade."

Em seu shortinho samba-cancao, ele procura o número de um chaveiro no google. Eu me tranquei no banheiro para pelo menos lavar o rosto e colocar uma blusa com sutia antes de encarar a pia de louca a fazer o tal do café.

Ouvimos passos na escada e ele saiu apressado para ver quem era. Era ele, o zelador. Senhor zelador quase ganhou um beijo na boca de um magrelo sem camisa quando disse que tinha uma chave reserva de cada apartamento. Economia de 60 euros e de constrangimentos outros.

Agora estou procurando O homem Nu do Sabino em alemao para presentear o vizinho. Será possível?

2 comentários:

Anônimo disse...

Ele vai adorar o Homem Nu!
Sabe que o entregador dos correios deve estar com uma saudade enorme da vizinha que recebia a encomenda dos outros. Será que ele já achou substituto para a função?

Anônimo disse...

q lindo, ana!!! adorei essa história!!!! pena q meus vizinhos são mais chatos!!!!beijos
ps. vc volta agora p o brasil??