quinta-feira, junho 14, 2007

direto da sala de imprensa (em 5 minutos)

Onze e meia da manha o encontro de duas mochileiras que se olham e enxergam o coração uma da outra independente da cultura. Viajantes se reconhecendo.

O acaso programado do encontro foi em frente ao „Morena Bar“, perto da estacao Görlitzer Bahnhof. Ali as duas esperavam inquietas a carona que as levaria ao destino planejado: Kassel no estado de Hessen.

Dois minutos de conversa, uma descobre que a outra mora na cidade-destino. A uma, eu, indo a trabalho cobrir a Documenta – evento que ocorre na pacata cidade de prédios pontiagudos a cada cinco anos desde 1955.

Onde você vai ficar? Pois é, eis uma questão, os hotéis estao todos lotados. Ist ja Krass, echt? In so einer lengweiligen Stadt? Ja, ja. Ich habe eine Wohnung gemietet aber außerhalb, na ja...

Conversa vai, conversa vem. Nao muita. Em um minuto inesperadamente espontâneo, a alemã pegava meu telefone e ligava para o irmão, morador de uma república que teria um quarto livre. Tudo acertado em menos de cinco minutos e eu tinha uma casa para ficar. Ao telefone ela disse que eu era uma junge Frau que ela acabara de conhecer mas que parecia extremamente confiável.

Pelas tantas, já dentro do carro guiado por Laurenz, o motorista que contactamos pelo site de caronas e quem acabamos as duas conhecendo e gostando, descobrimos que tínhamos o mesmo nome: Ana. O dela certamente com dois enes; diferença cultural pouca. Pelas tantas e meia descobrimos que o Ana dela era Anna Louise. Era coincidência demais. Nao intento entrar pela auto-ajuda porque tenho vocação assumida para um drama. Porém a mim parece inegável essa energia circulante do universo que pode ser Deus ou apenas a tal da forca superior que manda uns bons fluidos necessários depois do período de paúra. Anna Louise – minha versão germânica – me arrumou lugar para ficar numa república de quatro. Achei que encontraria um muquifo. Que nada! O melhor prédio de Kassel visto até agora. No topo de uma ladeira, vista para as cúpulas dos prédios reconstruídos depois da segunda guerra. De graça. Depois dizem que alemão é frio. É frio mas dá carona para qualquer um porque todo mundo é honesto e ninguém tem medo de ser assaltado. É frio mas dá um canto para qualquer um dormir. Houve muitas sintonias – inclusive a data de aniversário – mas eu continuo sendo uma estranha para minha xará versão kasseliana.

Retiro tudo o que disse – ou que pensei – sobre a falta de solidariedade no primeiro mundo, é uma solidariedade talvez maior ainda mas institucionalizada (por sites de carona, SMSs).

Depois de tudo isso esculturas belíssimas, vídeo-projeções surpreendentes, pinturas impressionantes, performances de cair o queixo. Seguidos de coquetel liberado para imprensa com conversinhas com o povo local – muito mais aberto do que o berlinense. Senti-me mais próxima a todos, coisa de província. Faltou pouco pra ser o Rio.

Mais sobre a Documenta em si no próximo post.

2 comentários:

aqui disse...

delícia

Julieta disse...

Ana, essas coisas só acontecem com vc mesmo!