segunda-feira, julho 19, 2004

Romance contemporâneo

Ele, escritor em evidência na mídia, estava a fim dela, balzaquiana amedrontada com a proximidade da mudança de rótulo, quando passaria à categoria das lobas. Profissionalmente bem sucedida, mas um fracasso de acordo com parâmetros sociais: solteira, sem maiores perspectivas de construir família. Seu problema era gostar muito de si mesma. Ele gostava do seu jeito mulher moderna independente, arrogante e que finge que sabe de tudo.
 
Chamou-a a sua casa na saída de um desses eventos onde todo mundo que faz que se conhece, se encontra. Ela, muito discretamente, porque zela pela própria aparência e não gostaria de ser vista ao lado do famoso, mas "feinho" - como ela o chamava, aceita o convite. Afinal de contas, que mal há em manter um contato mais íntimo com um cara influente?
 
Papo vai, papo vem, ele oferece uma bebiba. Ela pensa: até que enfim um vinhozinho!... Ele chega da cozinha, daquelas tipo americana, com duas xícaras que não pertenciam ao mesmo conjunto de louças, como bem reparou ela. Puta-que-pariu, o que estou fazendo aqui. Será que sugiro uma bebida mais "quente", como aquele whisky ali? Melhor não, vai que o cara é do AA, vou ficar de pilequinho sozinha?! De jeito nenhum. Vamos encarar o café. 
 
Biscoitos? Um brilho volta aos olhos dela. Ela ama biscoitos, escolhe sempre os mais diferentes do mercado, aprecia o design das embalagens. Ele abre um biscoito MAIZENAS. Ela come, é o que lhe resta.
 
Quando ela já estava quase indo embora, ele envereda pela assunto quadrinhos pornográficos, mostra um livro de  Carlos Zéfiro. A agonia toma-lhe conta do peito. Não me mostra isso, por favor, que nem kamasutra eutive coragem de ver. Tenho horror a essas coisas, morro de vergonha!! Foi o fim. Ela voltou para casa para mais uma noite de insônia, ainda mais depois do cafézinho.
 
Dias se passam, ela recebe um e-mail relembrando a agradável noite. Agradável para quem cara pálida? Responde alegando a si mesma ter de manter relações profissionais, mas, no fundo,  querendo prolongar aquela massagem no ego.  
 
Mais tempo decorre. Ela nota que de single, ele passou a comitted no ORKUT. Não se agüenta e manda um e-mail na sexta à noite: ué, casou? Ele não responde. No domingo, o perfil dela no orkut aparece com uma estrela de fan a menos. Esse foi o jeito que ele encontrou de terminar o que nem conseguiu começar!

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