quinta-feira, julho 29, 2004

Beija-me

"Beija-me
Quero teu corpo coladinho ao meu
Beija-me
Eu dou a vida por um beijo teu
Beija-me
Quero sentir o teu perfume
Beija-me com todo o seu amor
Se não eu morro de ciúme

Ai, ai, ai que coisa boa o beijinho do meu bem
Dito assim parece à-toa o feitiço que ele tem
Ai, ai, ai que coisa louca, que gostinho divinal
Quando eu boto aminha boca nos teus lábios de coral."

terça-feira, julho 27, 2004

Bar

Adorno já anunciava que na contemporaneidade, até o tempo de lazer é regrado: hora para ir à praia, hora para sair para jantar, hora para ver um filme...
Estou reservando 15m desse meu dia-a-dia tão concorrido para escrever um pouco sobre impressões acerca do que tento observar com cuidado. Bar é um assunto que sempre rende.
O PLEBEU é um dos bares do Rio que eu descobri tardiamente. Nunca levei fé no lugar e ontem, pela primeira vez, fui encontrar amigas lá. Muito bom, excelente, não fosse a garrafa de cerveja R$3,50. Pelo menos é Bohemia.
Pessoas interessantes por ali. Incrível como pré-julgamentos são assíduos hoje em dia. Bastou uma olhada pelas mesinhas e já concluí que ali havia as mais instigantes criaturas. Estaria mentindo se dissesse que foi o papo que chamou minha atenção. Não. Foram a aparência e o jeito do conjunto da multidão. Uma camisa do Brasil da copa de 70, uma barba mal-feita, um sorriso simples e sincero, mesas falando alto. Uma sinergia boa. 
Vale a pena conferir.

 

segunda-feira, julho 19, 2004

Romance contemporâneo

Ele, escritor em evidência na mídia, estava a fim dela, balzaquiana amedrontada com a proximidade da mudança de rótulo, quando passaria à categoria das lobas. Profissionalmente bem sucedida, mas um fracasso de acordo com parâmetros sociais: solteira, sem maiores perspectivas de construir família. Seu problema era gostar muito de si mesma. Ele gostava do seu jeito mulher moderna independente, arrogante e que finge que sabe de tudo.
 
Chamou-a a sua casa na saída de um desses eventos onde todo mundo que faz que se conhece, se encontra. Ela, muito discretamente, porque zela pela própria aparência e não gostaria de ser vista ao lado do famoso, mas "feinho" - como ela o chamava, aceita o convite. Afinal de contas, que mal há em manter um contato mais íntimo com um cara influente?
 
Papo vai, papo vem, ele oferece uma bebiba. Ela pensa: até que enfim um vinhozinho!... Ele chega da cozinha, daquelas tipo americana, com duas xícaras que não pertenciam ao mesmo conjunto de louças, como bem reparou ela. Puta-que-pariu, o que estou fazendo aqui. Será que sugiro uma bebida mais "quente", como aquele whisky ali? Melhor não, vai que o cara é do AA, vou ficar de pilequinho sozinha?! De jeito nenhum. Vamos encarar o café. 
 
Biscoitos? Um brilho volta aos olhos dela. Ela ama biscoitos, escolhe sempre os mais diferentes do mercado, aprecia o design das embalagens. Ele abre um biscoito MAIZENAS. Ela come, é o que lhe resta.
 
Quando ela já estava quase indo embora, ele envereda pela assunto quadrinhos pornográficos, mostra um livro de  Carlos Zéfiro. A agonia toma-lhe conta do peito. Não me mostra isso, por favor, que nem kamasutra eutive coragem de ver. Tenho horror a essas coisas, morro de vergonha!! Foi o fim. Ela voltou para casa para mais uma noite de insônia, ainda mais depois do cafézinho.
 
Dias se passam, ela recebe um e-mail relembrando a agradável noite. Agradável para quem cara pálida? Responde alegando a si mesma ter de manter relações profissionais, mas, no fundo,  querendo prolongar aquela massagem no ego.  
 
Mais tempo decorre. Ela nota que de single, ele passou a comitted no ORKUT. Não se agüenta e manda um e-mail na sexta à noite: ué, casou? Ele não responde. No domingo, o perfil dela no orkut aparece com uma estrela de fan a menos. Esse foi o jeito que ele encontrou de terminar o que nem conseguiu começar!

domingo, julho 18, 2004

Kerouac

O fim de semana foi bastante atípico para uma cidade como o Rio. O sol apareceu de segunda a sexta e resolveu dar lugar à chuva já na sexta à noite. Costumo não levar muito a sério a questão de que o tempo influencia o humor das pessoas, considero essa desculpa, usada costumeiramente para explicar o comportamento frio de certos povos, um pouco sem graça. No entanto, sou obrigada a confessar que a chuvinha não me deixou pôr os pés para fora de casa até agora, domingo à noite. Uma amiga, conhecendo meus ímpetos para a vida mundana, alertou-me de que eu estava sofrendo da síndrome do pânico.
 
Aproveitei a folga do sol para organizar papéis, refletir um pouco e acabar On the Road do Jack Kerouac, a tão proclamada "bíblia da geração beat".  Criei muitas expectativas em cima do que me esperaria ao começar a leitura. Os elogiosos comentários da contra-capa e todo o mito que se instaurou ao redor de Pé na Estrada, como é intitulado em português, me animaram bastante.
 
Achei que tinha em mãos relatos de verdadeiras loucuras possíveis de serem alcançadas nessa vida. Ingenuidade minha. Não atentei para o fato de que começaria uma história sobre a juventude americana dos anos 50!! Dois jovens, Sal Paradise e Dean Moriarty, são os protagonistas da trama. Cruzam o continente americano umas quatro vezes sem dinheiro, pegando caronas e usando da malandragem não só para sobreviverem, mas para VIVEREM de fato. O livro deve ter despertado muitos jovens da inércia na época em que foi publicado. Hoje em dia, surte pouco efeito. Para a geração 2000, acostumada com a liberdade, ácidos, êcstasy e muita maconha, as cervejas e o pouco de erva encontradas na trajetória dos dois amigos parecem inocentes demais. 
 
Contudo, a leitura é perigosa, tive vontade de sair por aí, observando as pessoas com redobrada atenção e de jogar tudo para o alto e  viajar! Foi produtivo, sim. Botando na balança, acho que valeu a pena, embora, no momento, eu esteja precisando de algo que fortaleça as energias que me conectam ao mundo real e não de desestímulos!...